Observamos a sala anteriormente, tivemos o primeiro contato com os alunos, refletimos e planejamos o nosso projeto de intervenções.
Na segunda - feira a turma parecia outra. Nós, que haviamos estabelecido como problemática principal a dificuldade de leitura, percebemos que esta é apenas uma entre as diversas existentes na escola: baixa auto-estima, violência, desinteresse, falta de participação dos pais, etc.
Não consigo compreender que rumo tomar nesse período. Talvez por perceber a minha impotência frente ao sistema. É! É esse o sentimento. Sinto-me impotente.
Porque as dificuldades na leitura das palavras é simples frente ao real problema: os alunos não conseguem ler seu papel enquanto sujeito no mundo. Sujeito que constrói e reconstrói e por assim ser, transforma o meio em que vivem. Estão acostumados a copiar. Não acreditam na capacidade que tem e não valorizam suas produções.
As crianças não possuem auto-estima. E para se afirmarem, recorrem à violência física e verbal, entre si. Visualizo nos olhos de meus alunos um "brilho apagado", de quem queria que sua vida fosse diferente. Mentes brilhantes! Entretanto, não encontram oportunidades de fazer fulgir suas potencialidades e habilidades.
A escola não seria um dos ambientes promovedores disso? É claro que sim. Porém, ela mesma não possui brilho. Funcionários desmotivados, professores desiludidos e, também, profissionais que lutam, mas não conseguem sair do lugar.
Percebo "um monte" de incoerências no âmbito da educação. Criticamos tanto a fragmentação dos saberes e lidamos com a realidade em seus aspectos separados, como a vida fosse um todo, com suas partes separadas sem correlação.
Em meus pensamentos fico a me colocar no lugar da direção, no lugar da coordenação, no lugar dos pais, no lugar dos funcionários, no lugar das crianças, no lugar da sociedade. O que eu faria? Qual o meu posicionamento?
Aí está a raiz dos males. Falta uma ligação entre todos esses elementos. Deve-se haver uma relação empática, solidária e holística.
Edgar Morin, em seu livro Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, diz-nos que a educação do futuro deve levar em conta que as partes constituintes do todo, mesmo sendo diferentes são inseparáveis. Assim, deve acontecer o conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu conjunto, visando que o aluno compreenda seu papel enquanto indivíduo, enquanto sociedade e enquanto espécie.
É necessário que cada docente deixe de refletir individualmente e divida seus dilemas e suas dificuldades com toda a escola. E, mais do que isso, vá à ação. É preciso parar de ficar só tecendo discursos e ir para a mudança através da ação.
Em nossa formação acadêmica isso é extremamente necessário. Durante oito semestres ficamos em nossa cadeira nos servindo de teoria para criticar o profissional da escola pública de uma região periférica. Criticamos sua dificuldade de elaborar pensamentos embasados teoricamente, sua metodologia tradicional, sua prática incoerente. Nos estágios do curso vem o impacto. Percebemos o que está atrás dessas ações. Não é que eu esteja defendendo essa maneira de ser. Mas, apenas percebi que muitos desses professores, são profissionais frustados, que um dia também idealizaram uma prática diferente, porém cansaram de tanto lutar contra a maré.
Para mim, a maior dificuldade é o fato dos alunos não quererem aprender. Ludicidade, propostas interacionistas parecem não estar dando certo. Às vezes o que resolve é o reforço negativo e positivo. Parece que nada dá certo.
Estou refletindo e penso em algumas ações que possam mudar algumas coisas. A segunda semana de estágio começou e nela vamos realizar algumas propostas diferentes. Espero que tudo dê certo para todos nós, afinal esse é um desabafo de todos os meus colegas. Está sendo difícil, mas anseio que através de tudo isso eu possa superar minhas limitações e enxegar formas de solucionar, ou pelo menos, amenizar as problemáticas que são refletidas no espaço educacional; ficar estagnado do jeito que está é que não dá para ficar.
Oi Mariely,
ResponderExcluirSuas colocações são bastante reflexivas, e retratam as dicotomias vivenciadas na escola e no nosso curso.
O importante é não se acomodar, pesquisar e buscar inovações possíveis nesse cenário.